segunda-feira, 26 de março de 2012

Acho que era Junho de 93...

Deixei uma pista no meu perfil do twitter hoje a tarde sobre o assunto que escreveria no blog à noite. Não consigo entender o espanto de todos e a comoção pelas mortes dos torcedores do Palmeiras no confronto das torcidas Mancha Verde e Gaviões da Fiel. Qual é o motivo de tanto alarde?

Estou fazendo esses questionamento porque isso acontece a vinte anos e ninguém faz nada. É isso que vocês leram: VINTE ANOS. Era junho de 93 - e não tem nada a ver com a música do Nenhum de Nós... - eu estava no terceiro ano do segundo grau naquela época (hoje chamado de ensino médio). Viagem das equipes de handebol masculina e feminina do Colégio Gonzaga, de Pelotas.

Um grupo de adolescentes que gostavam do esporte e que tinham uma parceria muito legal. Alguns casais de namorados e muitos amigos em comum. Mas o que tudo isso tem a ver com Corinthians e Palmeiras? A referida viagem era para um intercâmbio com o Colégio diocesano La Salle de São Carlos, São Paulo. Chegamos na cidade de São Carlos lá pelo dia 10, não lembro bem.

Curtimos bastante todas as atividades e os jogos contra a escola de lá. Mas os fatos que iriam acontecer no dia 12 de junho de 1993 não sairiam nunca mais da minha cabeça. Sábado de final do Campeonato Paulista e a gente tava muito afim de conhecer o recém inaugurado Shopping Center El Dourado.

O maior shopping da América Latina (naquela época, hoje já não sei se tem outro...) tinha um telão instalado no saguão de entrada com umas doze telas. Tudo isso para transmitir a partida entre Corinthians e Palmeiras. Primeiro jogo, vitória do Timão por um a zero. O empate dava o título ao alvi-negro do Parque São Jorge.

Só que aquele timaço do Palmeiras não iria vender barato o campeonato. E não vendeu. Sapecou um quatro a zero inacreditável em pleno Moruimbi lotado. Eram só 104 mil espectadores. CENTO E QUATRO MIL!!!

E desses, muitos corinthianos. Mas também muitos palmeirenses. E ao final do jogo só poderia acontecer uma coisa: confusão. Para informar como foi a semana em que estivemos por São Carlos, um menino de doze anos foi morto a tiros embaixo de um viaduto em São Paulo porque estava vestindo a camiseta da Torcida Independente do São Paulo.Eu sei que o tricolor não estava nem participando das finais do estadual, mas para os torcedores da Fiel qualquer coisa incomoda quando o clima de decisão se instala.

Não preciso dizer para vocês que quando entramos no ônibus após a partida terminar para seguir viagem rumo a Pelotas pegamos todo o trânsito da saída do Morumbi. E todo o público de touquinha preta que estava no estádio resolveu rumar por onde a gente trafegava. Um mar de torcedores da Gaviões da Fiel fazendo um arrastão gigantesco.

Lojas arrombadas sem a menor cerimônia, pessoas deitadas na pista para assaltarem os carros que passavam, vitrines depredadas e mercados assaltados por milhões de "torcedores". Não tem como chamar aquele povo todo de torcedor. Eram bandos de vândalos, marginais...

Dois dos nossos colegas de colégio estavam dentro do ônibus com camisetas do Verdão. Não preciso dizer que o lugam mais seguro para eles era embaixo dos bancos. e o que eu mais escutava de um deles era: " Não deixa eles entrarem aqui... eles vão me matar..."

E o pior que ele tinha toda razão! Nosso ônibus foi apedrejado e teve cinco calotas roubadas em uma sinaleira. Só conseguimos ver os estragos quando chegamos em um paradouro no Paraná. Se a Gaviões invadisse o ônibus, não teríamos hoje a companhia do Zé e do Baini. Uma das pedras foi arremessada justo na janela em que o Baini estava sentado. Por sorte, pegou um pouco abaixo do vidro, atingindo só a lataria.

Quase entrando na BR para voltarmos ao estado, cruzamos com uma camionete cheia de palmeirenses que comemoravam e iam na direção dos torcedores do Corinthians. Tentamos avisar à eles, mas tudo em vão. A euforia era tanta pela comemoração do título que eles não nos deram importância. Não tenho a noção do que aconteceu depois disso. Se eles encontraram os torcedores rivais ou não.

Como eu era um dos mais velhos do grupo todo, fora o treinador Chuteca, minha preocupação era em tentar acalmar as gurias e também fazer com que os guris não se enlouquecessem com a situação. Mesmo que a maioria fosse torcedor do Xavante, uma situação dessas nunca tinha sido vista em lugar nenhum.

explicado porque não me espantei com os ocorridos no último final de semana. O máximo que me ocorreu foi um deja-vu. Saltou na memória alguns fatos de vinte anos atrás. E junto com as coisas boas daquela viagem sempre vem essa lembrança de pânico e temor...

Até quando isso vai continuar acontecendo? E as autoridades  públicas o que farão? E os clubes? Alguém precisa agir e coibir tudo isso. Vem acontecendo a VINTE ANOS e só agora espanta?

Por favor....

Nenhum comentário:

Postar um comentário